8.15.2003

Pippin: The closer we are to danger, the farther we are from harm that what I always say.
Merry: Are you mad? We will be caught for sure.
Pippin: Not this time.

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Há algum tempo venho pensando nesse post e a falta de inspiração me fez adiá-lo por algum tempo (como tantos outros, assuntos que ainda estão guardados na manga).

O ser humano é regido pelo medo. É medroso por natureza. É o medo que dá o impulso para seguir em frente. É o medo que paralisa nos momentos certos, fazendo-nos parar e refletir sobre determinada situação. É o medo que coloca os limites. É o medo que traz a evolução da espécie. Ou você acha que a descoberta das utilidades do fogo foi mero acaso!? Mas até que ponto devemos permitir que esse sentimento domine a nossa vida e ofereça as regras do jogo!? Há tempos venho pensando nisso e ainda não cheguei a uma conclusão. Por vezes, acho que dominei a maioria dos meus monstros interiores, tornando-me uma pessoa mais corajosa. Por outras, creio que o passar do tempo fez de mim uma pessoa absurdamente medrosa. Eu vivo dizendo que medo é igual a projeção de uma sombra na parede. Quanto mais você se afasta, maior ele fica e cresce de tal maneira que chega a paralisar, tamanho o pânico. Por outro lado, quanto mais perto dele você chega, menor ele se torna e você acaba por adaptar seus olhos ao que está vendo, acostumando-se com o 'monstro', até que ele não assuste mais. Mas existem medos reais e medos imaginários. Medos controláveis e medos que fogem da nossa alçada. O medo existe para ser enfrentado. Não adianta simplesmente assobiar e fingir que ele não existe. Ou você o domina, ou ele domina você. Simples assim. "Herói é aquele que foge para frente". Recentemente andei falando sobre morte e vida, sobre o medo maior ser o de não viver. A morte não me assusta. É a consequência de estarmos vivos. Mas, chegar ao fim da linha, olhar para trás e ver que não construí nada, que não deixei marcas, que não dei o melhor de mim, que não estou realizada? Sim, isso realmente me assusta. Posso dizer que esse é o meu maior medo. Pior. Traz a motivação de formas erradas, uma vez que acabo me atropelando, tamanha a pressa em fazer tudo ao mesmo tempo. Já tive síndrome do pânico. Durante quatro anos, já habilitada, era incapaz de sentar ao volante de qualquer carro. Esse medo paralisava a minha pessoa de tal forma, que mal conseguia respirar. Tremedeira, falta de ar, suor frio, choro, dor de estômago, náuseas, moleza. Ficava tão atordoada que não conseguia sequer girar a chave no contato. Esse medo eu venci. Com a ajuda de profissionais, sim. Mas acredito que a maior parte do mérito é minha, pois eu quis enfrentar esse medo. Eu quis derrotá-lo, que desejei mais que tudo colocar esse monstro para dormir. E querem saber? Nem foi tão difícil assim. Força de vontade. Força interior. Trabalhar a força interior para vencer os medos, por mais banais que eles possam parecer (embora eu acredito que um medo nunca deve ser desprezado. Seja por quem o sente, seja por quem o vê). Quando criança, não havia quem me colocasse na água. Na praia, ficava à distância, não me aproximava do mar por nada no mundo. Até para tomar banho o caos estava instalado. Influência direta de vidas passadas. Razões que eu só vim descobrir já quase-adulta. Baratas. Sim. Eu tinha pavor de baratas. Aquele serzinho cascudo, pequeno e insuportavelmente irritante. Até o dia em que me vi sozinha em casa. Na minha casa. Ou eu a exterminava ou ela invadiria meu sono, com pesadelos horríveis, só por saber que a cucaracha ainda andava pela casa. Foi um ritual absurdo em plena noite de lua azul. Mas eu finalmente exterminei uma barata pela primeira vez na minha vida. Antes que ela exterminasse com meus nervos. Hoje, eu olho para elas e parto para cima sem dó. Afinal, a casa ainda é minha. E pensar que hoje eu trabalho com aranhas e escorpiões. E eles nunca me assustaram. Dirigir, baratas, água. Esses medos eu exterminei. Mas restam ainda muitos. Pequenos e grandes. O desconhecido não me assusta. Ao contrário, gera curiosidade em mim. Eu tenho medo de ter medo. Medo de ser inutilizada, de sentir-me inútil. Medo de depender dos outros. Medo de ficar banguela. Medo de fogos de artifício. Esse, aliás, é conflitante, pois sou apaixonada por fogos, também. Medo de desfiladeiros, principalmente os beira-mar (medo esse adquirido depois de grande, pois, quando menor, minha maior atividade era escalar as pedras e atravessar as praias através delas). Medo de armas de fogo. Medo de não ser suficiente. Medo de decepcionar. Medo de solidão. Violência. É um medo real, vivemos cercados por ela, em todas as suas formas. Em uma escala de valores, meu segundo maior medo. Sim, eu tenho medo absurdo de ser privada da minha liberdade, de ser violentada em todos os aspectos, de ser humilhada só porque alguém tem uma arma apontada na minha cabeça, de alguém ultrapassar a barreira do destino e escolher a minha hora de partir, de um motorista mais ousado fazer alguma grande merda, de acabar sobrando pra mim algo que eu sequer causei. Já aprontei poucas e boas em razão desse pavor, que já chegou a me paralisar algumas vezes. Histórias que dão margem a gozações sem-fim, até hoje. E, por mais que procure, não consigo encontrar uma maneira de enfrentar esse meu medo de frente. Não permiti que ele dominasse a minha pessoa, mas não há como enfrentá-lo. Mas decidi que não vou tolher minhas vontades em razão da vontade alheia. Ando sim, de janelas abertas. Não tenho medo de escuro ou de sair sozinha, à noite ou de madrugada. Nunca gostei de multidões mesmo e sou uma motorista prudente e educada. Sou uma pessoa pacífica, que foge de qualquer encrenca. A melhor arma, na minha opinião, continua sendo a palavra. Portanto, finjo que esse medo não existe. É mais fácil de domar assim. Alguns dizem que é confiar demais da sorte e abusar dela. Não. Eu vejo diferente. Então, como no diálogo do início do post, eu fico o mais próximo possível desse perigo, para tentar diminuí-lo, pois ele bate de frente com o meu maior medo, que é o de 'sobreviver'. O de viver pela metade. O de não *viver*. E isso, eu jamais permitirei.

E você, tem medo do quê!?

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