7.06.2003

...say goodnight, not goodbye...

Estou há 40 mins. olhando o título do post, sem conseguir ordenar as idéias para escrever, tamanha a dor que vai em meu coração. As teimosas lágrimas não cessam. É como se uma mão gigante espremesse o peito e sufocasse você até o ar faltar de verdade, fazendo a dor saltar pelos olhos, na forma de lágrimas. Frodo, o pequeno gato preto, foi encontrado na rua, em Vinhedo, no dia 18 de maio do ano passado. Eu poderia até arriscar a dizer que ele nos encontrou. Ele nos escolheu. Aquele pequenino ser vivo, que cabia na palma da mão, com poucos dias de vida, do alto de sua fragilidade soube dar forma ao sentimento chamado amor. Conquistou tudo e todos. Foi adotado pelo grande siamês vesgo e pela boi que late. Era o caçula da família. Brincalhão ao extremo, carinhoso, incapaz de qualquer ato traiçoeiro, fama que dão aos gatos apenas quem não os conhece. Pedia colo sem a menor cerimônia. Se instalava como um lord e tirava deliciosas sonecas, com um romromrom encantador. Mesmo que fosse dentro do bolso da camisa ou na tigela de leite da Nikita, ao quentinho sol da manhã. E, caso lhe fosse negado esse direito, escalava nosso corpo para se instalar no ombro, tal qual papagaio de pirata, e ali permanecia, cambaleante. Glutão por natureza, comia como um hobbit, daí o seu nome. Ao mesmo tempo, com o instinto felino declarado. Caçador, adorava trazer 'presentes'. De hábitos noturnos, sabia se defender e proteger muito bem seu território. Era esperto e ágil, sempre inventando alguma nova cena Matrix, seja fazendo a curva no ar ou se esgueirando pelo beiral do telhado para encurtar o caminho até nós. Muitas vezes dava baile em seu próprio pai, Sushi, o gato mais velho que o adotou. Sofreu muito e mudou alguns hábitos com a partida do irmão mais velho. Passava o dia na rua, mas ao me ouvir estacionando, corria para pedir seu chamego. Virávamos a noite no computador, ele sempre insistindo em atrapalhar a digitação, pois se instalava em meus braços para o cochilo. Na hora de dormir, a disputa era pelas cobertas. Impossível não se apaixonar. E foi assim, até a noite de ontem, quando um imbecil sem coração resolveu brincar de Deus e decidir pela vida alheia. Sem a menor humanidade, ofereceu carne com chumbinho para o pequeno Hobbit. Sim, veneno utilizado para matar ratos, com venda proibida por lei e que pode ser encontrado clandestinamente em qualquer lugar, até mesmo em camelôs. Veneno de alto poder letal, que cumpre sua função em apenas 20 minutos. Inclusive em seres humanos. A cena presenciada dificilmente será esquecida. Quem já viu um animal agonizando, pode entender, um pouco, o tamanho do meu desespero, ao encontrá-lo caído dentro de sua caixinha de areia, imóvel, mal respirando, com as pupilas dilatadas, um miado rouco, gelado face a queda de pressão, com hemorragia interna. Entre o envenenamento e o óbito, passaram-se quase duas horas. Frodo, o gato guerreiro, lutou bravamente pela vida, contrariando as previsões de ação do veneno. Conseguiu chegar em casa para pedir ajuda, se debateu na mesa do Hospital Veterinário, tentando evitar maior sofrimento, até que seu coraçãozinho não resistiu e parou. Finalmente desistiu de lutar e foi encontrar Sushi, do outro lado da ponte do arco-íris. E assim, mais um pedaço do coração da loba foi arrancado, triturado, subestimado. As lágrimas de dor se misturaram com as lágrimas de revolta, e o espírito da ariana justiceira gritou forte. É inadmissível que isso continue acontecendo. As pessoas se calam. Se confortam. Se acomodam. É hora de fazer barulho. Ainda não sei como. Mas algo precisa ser feito. Não trará meus filhotes de volta, mas evitará que outras pessoas sofram do mesmo mal. Idiota mal-amado, que se aproveita do manto da impunidade pra praticar assassinato frio. Maior maldade não há. Temos muito a aprender com os animais. Convivência entre iguais. E entre diferentes. Esse indivíduo é um completo infeliz, que nunca teve a oportunidade de entender como é ser amado por alguém que não pede nada em troca. Entre seres humanos e animais não há moeda, não há comércio, não há jogo de interesses. É amor, na forma mais pura e incondicional. Mas de você, ser irracional e sem coração, Bast se encarregará. Be prepared. E você, pequeno Frodolino, que cruzou a ponte do arco-íris da forma mais honrada e digna, com a coragem que sempre lhe foi característica, corra, descanse, brinque, tire seus cochilos em paz. Agora ninguém mais vai incomodar. Qualquer dia a gente se encontra, de novo. Obrigada, por em tão pouco tempo, permitir compartilhar com você os mais doces e ternos momentos e o mais lindo dos sentimentos. As marcas deixadas são eternas. Não há veneno no mundo que mate o amor que construímos. Isso é nosso e ninguém vai tirar. Vai, meu gatinho, encontrar seu irmão, o pequeno Banzé e tantos outros vítimas de tamanha crueldade. Fico com você nos meus pensamentos. E no meu coração.



E cada vez mais eu acredito que não pertenço a esse mundo.

Sem comentários:

Enviar um comentário