2.24.2003

Há dez anos, um beijo selou o início de um amor incondicional.

E, inevitáveis, as perguntas que não querem calar...

E se?

E se as coisas tivessem tomado outro rumo?
E se eu tivesse tomado outra decisão à época?
E se eu tivesse dado mais uma chance?
E se ele tivesse me ouvido?
E se nós não tivessemos perdido o contato?
E se tudo fosse diferente?
E se nossos olhares voltarem a se encontrar, como há dez anos?
E se ...?

Será?

Será que as pessoas sabem aproveitar uma segunda chance?
Será que se eu tivesse mudado de idéia, eu estaria mais feliz?
Será que ele cresceu tanto quanto eu?
Será que houve um aprendizado?
Será que, se eu tivesse mudado de idéia, eu ainda estaria viva?
Será que ele é feliz?
Será que nossos olhares voltarão a se encontrar, como há dez anos?
Será...?


Carência + Saudade + Angústia = Set Mode [On]

"...Nothing is forever
There's got to be something better than
In the middle...
"

***

O link para o post não está funcionando, então segue aqui, a minha versão do ocorrido...

...É Carnaval... é doce ilusão... é promessa de vida no meu coração...

Carnaval. 1993. Depois de passar o dia inteiro rindo e se divertindo em um sítio, ela e sua amiga resolvem pular a última noite de Carnaval na Capital. Aquele feriado já tinha tido um gosto todo especial, com diversos acontecimentos, nada como fechar com chave de ouro. As fantasias? Estavam apenas na sua cabeça. Foi de cara limpa, sem medo de ser feliz. Após uma leve discussão, uma praga rogada ao telefone estava pra se cumprir naquela noite. Ao som de marchinhas antigas, ela rodopiou o salão lotado diversas vezes, cantando e dançando, com os olhos sorrindo. Foi quando os olhares se cruzaram pela primeira vez. Foi instantâneo. Com um sorriso, sem dizer uma única palavra, ele se aproximou e a beijou. Um beijo que nem mil palavras conseguiriam descrever. Ela continuou pelo salão, mas não pisava mais em confetes e serpentinas. Pisava em nuvens. E a música soava longe... Só podia ouvir o seu coração disparado, sua boca pedindo por mais beijos. Os olhares se encontraram mais vezes, mas, dessa vez, não foi a esmo, porque um procurava pelo outro. Muitos beijos se seguiram, conversas sem nexo, risadas... E, por um instante, ela teve a nítida sensação de que não era a primeira vez que tinha aquele olhar doce ao seu alcance. A noite chegava ao fim, mas ela desejou que aquele instante nunca mais terminasse. Ele disse que não estaria na capital nos próximos dias, mas, que assim que retornasse, a procuraria. Ela foi para casa leve, completa, sonhadora. Mal conseguiu dormir. No dia seguinte, a lembrança da noite anterior se misturou com lembranças do passado e ela, finalmente, conseguiu entender. Alucinada, correu, atropelando tudo que tinha pela frente, atrás de seus guardados. Vasculhando em suas fotos de infância, encontrou o que procurava. O mesmo olhar doce e sorridente, ao seu lado, dez anos antes, em uma festa escolar. E gargalhou. Não, ela não sorriu, nem riu. Ela soltou uma deliciosa gargalhada, apertando a foto contra o peito. Tinha chegado a vez da sua estrela brilhar. E, nesse momento, o telefone tocou. Era ele. Tinha desistido de viajar. Queria vê-la mais uma vez. A partir daí, o mundo era pequeno demais para tanto amor. Quem os via, dizia que tinham sido feitos um para o outro. Nos seis anos que se seguiram, realmente, eles foram tudo um para o outro. Se completavam. Faziam tudo juntos. Ele tinha o dom de arrancar dela risadas deliciosas. Ela estava sempre presente nos momentos de dificuldade. Eles tinham a mesma altura. Usavam as roupas um do outro. Comemoravam o aniversário juntos, afinal, eram apenas três dias de diferença. Ele criava apelidos únicos pra ela. Ela o enchia de mimos. Ele a levava às nuvens com um simples toque. Ela cuidava dele quando estava doente. Ele fazia planos deliciosos para o futuro. Ela o ajudou com os estudos. Ele a admirava por sua inteligência. Ela o admirava pelo modo como tratava crianças. Eles tinham um vocabulário próprio. E nem precisavam. Podiam ler o pensamento um do outro. Trocaram milhões de cartas e bilhetes com juras de amor eterno. Aos olhos normais, soariam melosos demais. Mas para eles, cada letra estava recheada de um momento único, guardado a sete chaves na memória. Tudo era muito especial. Fosse uma viagem ao exterior, recebida como uma lua-de-mel, fosse uma tarde de sábado espremidos no sofá da sala, com um filme água com açúcar na televisão. Fosse uma balada noturna no auge do inverno congelante, regada com whisky, fosse uma esgotante caminhada ecológica em uma ilha, com direito a uma massagem especial depois. Fosse uma aula monótona de Introdução ao Estudo do Direito, com bilhetinhos trocados na surdina, fosse uma festa de gala, dançando ao som de Frank Sinatra e sussurrando declarações ao pé do ouvido. Cada instante foi vivido com uma intensidade indescritível. A única coisa que realmente importava é que estavam juntos. Tinham um ao outro. A história poderia parar por aqui. Mas, como toda boa história de amor, o destino os separou. Outros acontecimentos, acrescidos de muitas lágrimas, inseridos entre um parágrafo e outro, a levaram a tomar outro rumo. Por questão de sobrevivência. Hoje, quatro anos depois, ela entende que foram feitos um pro outro, sim. Mas as almas não estavam preparadas, ainda, para se encontrarem. Tinham muito a descobrir, a crescer, a amadurecer. Ele tinha coisas pendentes a aprender com a Dona Vida. Paciência, auto-controle, limites, delicadeza. Ela tinha que descobrir em si o amor próprio, a capacidade de dizer não, a força e a coragem. Assim, mais uma vez, os caminhos voltaram a se separar. Cada qual seguiu para um lado, carregando em si o amor eterno jurado em palavras. Carregando consigo um pedaço do outro. Tentando preencher um vazio que se instalou desde então. Até hoje, toda vez que ela conta essa história, ela chora. Não chora pelo peso da decisão que teve de tomar. Chora de saudade de ter aquele olhar doce novamente, de vontade de sentir o primeiro beijo a cada beijo dado, de ter aquelas mãos acariciando seu cabelo, de deitar a cabeça em seu peito e pedir para o tempo parar. Chora porque ainda sente o cheiro, o gosto, o contato daquele louco amor. As últimas palavras que ouviu dele, há quatro anos, ainda retumbam em sua cabeça e ficam se repetindo com um mantra. Nunca mais se viram, nunca mais tiveram notícia um do outro, nunca mais se falaram. E assim ela vai sobrevivendo, entre lembranças, lágrimas, sorrisos, suspiros, saudade. Quase dez anos depois, ela se põe a pensar: o que o Sr. Destino reservou pra ela de presente? E pra ele? Onde andará aquele que a fez tão feliz, tão plena, tão tudo? Será, que algum dia, os olhares voltarão a se encontrar? E como será, quando isso acontecer? Perguntas lançadas em garrafas ao mar. O mesmo mar que já foi palco de uma noite de amor tórrida. O mesmo mar que já abraçou os amantes enquanto, de mãos dadas, observavam suas maravilhas. O mesmo mar que acolheu as lágrimas salgadas quando os caminhos tomaram direções contrárias. O mesmo mar que, hoje, ela navega sozinha e sem rumo, através de tempestades e calmarias, em busca do porto seguro.

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