10.09.2005

Cada vez mais eu me conformo que sou um ser na contramão. Contramão de pensamentos, de sentimentos e de atitudes. Se penso, não coloco em prática. Se faço alguma coisa, geralmente foi sem pensar. O que sinto fica aqui guardado só pra mim. Se fizessem um raio X de corpo inteiro hoje, minha cabeça estaria mais povoada que um campo de concentração nazista. Meu coração? A távola redonda da era moderna, com todos os cavaleiros bradando ao mesmo tempo de modo que um não escuta o outro e ninguém se entende. As muitas eu que me habitam estão em conflito intenso. Coisa de pré-guerra. Milhões de coisas assobiando o tempo todo no meu ouvido não posso esperar que todas as minhas eu se entendam, mesmo. Querem todas realizar suas vontades e desejos imediatos simultaneamente. Uma eu quer correr a cavalo pelos prados, enquanto a outra quer o silêncio da mata e uma rede preguiçosa. Uma eu quer dançar a noite toda até não sentir mais os pés, enquanto a outra clama por uma cama quentinha e uma noite de sono com qualidade. Uma eu quer se trancar em uma masmorra e nunca mais olhar pra cara de ninguém, enquanto a outra prefere uma noite de sexo selvagem até perder os sentidos. Uma eu quer sair correndo daqui e largar tudo enquanto a outra fala p.a.u.s.a.d.a.m.e.n.t.e. que tem algo muito melhor à minha espera, basta ter paciência. Uma eu quer passar a tarde fazendo arte, pintando e bordando, enquanto a outra quer permanecer grudada na internet, mesmo que seja pra fazer nada, as usual. Uma eu quer ser uma pessoa mais expansiva e feliz independente de qualquer outra coisa ou pessoa, enquanto a outra quer apenas poder abrir as cortinas do coração e contar toda a verdade escondida atrás dos pequenos milagres que lhe roubam sorrisos diariamente. Uma eu quer ser pé no chão, mulher madura, consciente de seus atos, responsável, enquanto a outra quer andar descalça, conversar com fadas, caminhar sobre nuvens e voltar para Neverland, de onde nunca deveria ter saído. Uma eu quer correr até a Amor aos Pedaços e morrer de overdose de bicho-de-pé. A outra fica martelando sobre a necessidade de um regime antes que todos os botões das calças percam de vista suas casas. Uma eu cala e chora. A outra grita e esperneia. O fato é que ainda espero o dia em que todas as eus venham a se entender.

É.
Durma com um barulho desses.

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