4.25.2003

...Heaven knows I'm miserable now...

.F.R.U.S.T.R.A.Ç.Ã.O.
Eita palavrinha danada de feia. E que machuca. Já tentou olhar a sua vida de fora, como se fosse um filme? Eu fiz isso. E me decepcionei. Mais uma vez o fantasma veio assombrar. Ver milhões de oportunidades escorregando pelos dedos das mãos, por mais que você tente agarrá-las. Tudo porque você fez escolhas tarde demais. Ou as fez na hora certa, mas, pelas circustâncias daquele momento, deixou-as de lado para outras decisões mais urgentes. Embora eu não me arrependa dessas escolhas, fica sempre o fantasma do "E se..." rondando. E se eu tivesse feito diferente? Eu prestei vestibular para Biologia 3 anos consecutivos. No quarto, na última hora, eu mudei a opção e assinalei Direito. E foi quando eu passei. Já que quem está na chuva é para se molhar, lá fui eu, enfrentar cinco anos de faculdade. Valeu à pena, eu não canso de falar isso. Em todos os aspectos. Mas ficou um vazio, sabe? Porque eu não nasci para seguir a carreira jurídica, por mais que tenha me esforçado e lutado contra a minha própria natureza. E agora um incomodo gigante me consome por dentro. Abriu uma vaga para pesquisador científico ao lado da minha casa. Sim. Atravessar a rua e dar uns 50 passos. Tudo o que eu sempre quis. Trabalhar com animais silvestres. Um salário razoável. Simplesmente perfeito. Se não fosse pela exigência de seis anos de experiência. Seis anos que eu gastei me dedicando à Justiça. E aí junta tudo e joga no liquidificador. Quase trinta anos nas costas e eu não tenho nada. Não construí nada. Tá. Não estou reclamando de barriga cheia, de maneira alguma. Eu tenho a minha casa, meu carro, meus filhotes, um bom emprego. E muita saúde. Amém. Mas ainda vivo sob as asas dos meus pais. Não consegui cortar o cordão umbilical. Nem eles permitiram, por saberem que ainda não consigo andar com as minhas próprias pernas. Sensação de inutilidade. Quando digo que não tenho nada, é de realizações que eu falo. Para alcançar o que eu quero, preciso de experiência. Para ter essa experiência, preciso camelar em estágios. Só que todos os estágios que eu vi, aqueles que realmente desejo, como o Projeto TAMAR ou o Zôo, são de, no mínimo, três meses. Ou seja, eu teria que parar de trabalhar. Só que não são estágios remunerados. E recomeçar do zero, de onde eu me encontro, é fora de cogitação. Eu não posso simplesmente explodir e mandar tudo pelos ares para ir pro meio do nada apenas com ajuda de custo, quando ela existe. A vida bem que podia imitar a arte. Eu teria cinco pontos de intimidação. Chegaria na banca examidora e convenceria que este emprego tem que ser meu. Porque eu nasci para isso. Eles veriam no brilho dos meus olhos. No tamanho do meu sorriso. Na minha satisfação. E, que dessem alguns dias probatórios. Eu mostraria o quanto sou capaz. Entenderiam que seis anos de experiência registrados são apenas papéis. Vocação não se aprende na universidade. E todos seríamos felizes para sempre. E eu me pego rodando em círculos, perdida, mais uma vez. Sem saber que caminho seguir, o que fazer para alcançar a realização pessoa, profissional e acalmar esse coração que chora espremido na cidade de São Paulo. Eu preciso de ar. Eu preciso de verde. Eu preciso de paz. Eu preciso de uma bússola porque me perdi dentro de mim mesma. Tenho tudo, tenho nada.

Mas quer saber? Hoje é sexta-feira. Dia de des-can-sar. De não pensar em nada. Desligar total. Cur-tir. Rir. Soltar a franga. Endemoniar. Lavar a alma. Colocar um band-aid nas feridas. E, depois de uma lavagem cerebral, cheia de chantagens, terrorismos e ameças de surpresas, vocês venceram, meninos. Salamandra aí vou eu. Dançar e cantar Smiths até os pés gritarem e a voz sumir. Estar com pessoas queridas que gostam de mim pelo o que eu sou, do jeito que eu sou. Que fazem questão da minha presença. Porque isso não tem preço. Vou pendurar todos os meus conflitos internos na árvore da calçada. Na segunda-feira eu os pego de volta. Se é para ser feliz, que seja o tempo todo.

"...why do I give valuable time
to people who don't care if I live or die...
"

Sem comentários:

Enviar um comentário