4.16.2003

...I feel my wings are broken...



Como dói chegar em casa e não ter o seu miado rouquinho e reclamão me esperando.
Como dói olhar para a cadeira e ver apenas a sua imagem, dormindo enroladinho, como uma bolinha de pelo.
Como dói ouvir o miado desesperado do seu filhote "adotado".
Dói mais ainda vê-lo rodando pela casa sem rumo, procurando por você.
Como dói ouvir os l*au*mentos da boikilate, pois ela também sabe que algo está errado.
Como dói olhar a sua plaquinha do RGA. Aquela que eu tirei de você para que a Niki não te machucasse com as brincadeiras. A mesma cuja ausência foi responsável pelo seu desaparecimento.
E as suas gravatinhas, de quando você chegava do banho todo cheiroso e macio.
Como dói sair cedo para a faculdade e não ter que expulsá-lo do banco do motorista.
Como dói olhar para o ratinho de pelúcia, para os brinquedinhos, para as bolinhas de papel.. tudo encostado, porque ninguém tem vontade de brincar.
Como dói a vontade louca de brincar de gatumia.
Como dói olhar pela janela e não ver você todo preguiçoso no telhado.
Como dói esse frio, sem você pra esquentar o meu colo.

...even heroes have the right to bleed...

Só isso que sinto.
Dor.
Perda.
Esse sentimento horrível que invade, quebra, sufoca, esfarela, mói por dentro.
Eu sei que muitos devem pensar que é exagero meu. Que há coisas muito piores.
Sim, eu concordo. Os órfãos de guerra. Uma mãe que perde seu filho por causa de um motorista imprudente. Alguém que perde sua casa, ou mesmo um ente querido, pela ira da Mãe Natureza. Uma doença sem cura. Tudo isso é tão sofrível quanto. Mas a minha dor no momento é essa. E ela não tem medida, como qualquer outra. Um pedaço de mim foi arrancado à força. E um vazio ficou no lugar. Um vazio que chega a tirar o ar.

...unforgettable, that's what you are...

Desde que me conheço por gente os gatos fazem parte da minha vida. Antes mesmo de aprender a andar já dividia o berço com um siamês. Muitos bichinhos de estimação vieram. Gatos, cachorros, tartarugas, peixes, galinha e até uma coruja. E cada qual foi único. Marcou esse coração que hoje chora, de forma única e inesquecível. Mas você, pancinha, é especial. Assim o foi desde o primeiro dia. Cativou a loira desde o primeiro miado, com seu olhar vesgo. Foi impossível resistir. E se tornou um grande companheiro, cativando todos que o conheceram. Um poço de carinho, sempre acessível, sem reclamar. Acompanhou tão de perto as reviravoltas da minha vida louca vida. Nós somos uma família, sim. Você tem irmã e filhote. E ambos estão sentindo a sua falta, também. Há cinco dias você partiu. E eu não sei para onde. Nem como. Hoje, no Centro de Controle de Zoonoses, foi impossível conter o choro, só de imaginar o que você pode estar passando. As pessoas queridas e tão solidárias tentam confortar esse coração partido, dizendo que você vai voltar. Eu não sei. Mas entre pensar que alguém tenha feito uma maldade tamanha com alguém tão doce, prefiro acreditar no seu retorno. Cheguei a cogitar a hipótese de não ter sido boa o suficiente com você. De ter sido negligente, esquecida, de não perceber as suas necessidades. Talvez por isso você tenha buscado uma nova família. Que você, por ser esse bichinho tão cheio de luz, tão doce, tão carinhoso, tão querido, tenha saído para levar a sua alegria a outra família. Talvez à uma criança doente. Ou à uma viúva solitária. Até mesmo a um guarda noturno, afinal, você é um grande companheiro. Mas que você se lembre sempre o quanto é amado aqui, nessa família. O seu lugar. E aprenda o caminho de volta. Cumpra a sua missão e retorne para nós. E faça essas teimosas lágrimas virarem lágrimas de alívio e alegria. Porque pior que a dor da sua partida, é o punhal da incerteza. Que Bast esteja sempre com você, onde quer que você esteja. E que São Francisco de Assis estenda a mão para guiá-lo em seu tão aguardado retorno.



Que você esteja certa, querida sobrinha. Volta, Sushi. Por favor.

...That's all I ask of you...



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