11.26.2002

...you're a little late I'm already torn...

Janeiro.
De um ano qualquer.
Terça-feira.
Ela olha no relógio, 11:45.
Estava longe dele há cinco dias. Nunca haviam passado tanto tempo longe um do outro.
A saudade esmagava seu coração e ela mal conseguia respirar. Sabia que não suportaria esperar até sábado. Correu ao banco e checou seu extrato. Sorriu. Com autorização de sua superiora, fez uma ligação interurbana. Correu para a rua, novamente ao banco, para fazer sua reserva. Na volta, comprou alguns apetrechos que julgava essenciais para a sua grande chegada. Óculos de sol, chapéu, um biquini novo e mais algumas coisas. Por alguns instantes pensou que estava enlouquecendo. Gastar três faltas já no começo do ano, sob o olhar reprovador de sua comandante. Não poderia esbanjar tanto dinheiro assim. Suas férias estavam marcadas para dali dezesseis dias. Um feriado tão próximo. E ela deu ombros a tudo isso. Seu coração gritava de saudade do olhar doce e do sorriso lindo que invadiam sua alma e a deixavam repleta. A noite parecia nunca terminar. Com o dia amanhecendo ela partiu no primeiro ônibus rumo ao litoral. Chegou no Hotel e sorriu ao descobrir que seu quarto tinha vista para o mar. Ansiosa, sem encontrá-lo no hotel, saiu em busca do abraço mais delicioso e seguro do planeta. Tinha tudo para ser perfeito. Ele vinha sozinho pela areia, na direção contrária, vestindo apenas uma bermuda, óculos de sol, carregando a máscara e o snorkel na mão, olhando para baixo. Por um instante, o admirou à distância. Ela não sabia se corria em sua direção, se voltava para o hotel, se esperava por ele, se colocava a mão na boca pra segurar o coração que insistia em saltar pra fora. Foi ao seu encontro. Não há, no mundo, palavra capaz de explicar o que aconteceu quando os olhares se reconheceram. E ela esqueceu de todas as preocupações e senãos e se entregou. Um misto de sorrisos, risadas, lágrimas mãos trêmulas, abraços e beijos. Voltaram ao hotel e fizeram amor deliciosamente, com saudade, com vontade, com carinho, com desejo, com paixão. Nada mais importava. Estavam juntos. Ela foi apresentada à turma, que se reunia à tarde para jogar volei na areia. Tinha tudo para ser perfeito, certo? Errado. Uma das garotas, alguns anos mais nova, de conduta duvidosa, pediu que ele a levasse à cidade, pois não tinha equipamento de mergulho e havia um passeio programado para o dia seguinte. Ele era o único motorizado da turma. Foram até o estacionamento, os três, mas ele se despediu dela, dizendo que voltava logo. Ao indagar o porquê de não poder ir junto, ele se transformou. Os olhos doces ficaram amargos e os lábios que antes sorriam lindamente proferiram palavras que ela tenta esquecer. Foi acusada de estar lá apenas para vigiá-lo, para sufocá-lo, espioná-lo, e não porque tinha saudades.Que ele sabia que isso não daria certo, e coisas absurdas que ela ouviu e se recusa a falar. Ela, engolindo as teimosas lágrimas, tentava argumentar que aquele escândalo era sem sentido. Continuou insistindo, porém, sob ameaças de violência física, deu as costas e rumou para o quarto com vista pro mar. O mesmo mar que assistiu, emocionado, o reencontro. E a mesma cama que foi palco de cenas de entrega total, de amor na sua mais pura essência, acolheu seu choro compulsivo e confortou a dor de um coração espremido em arame farpado. E ali, entre soluços e lágrimas, ela adormeceu, desejando nunca mais acordar. Algumas horas depois, acordou com o chamado dele à porta. Não tinha forças para levantar, nem para falar. Queria ficar ali para sempre. Ele, do lado de fora, com palavras doces novamente, pedindo desculpas, implorando para que a porta fosse aberta e pudessem conversar. Ela cedeu. Ele tinha trazido todas as suas coisas. Estava de mudança para o quarto com vista para o mar. Os dias que se seguiram foram lindos e perfeitos. Passearam de mãos dadas, mergulharam, andaram de lancha, namoraram, assistiram o sol ir embora para dar início à noite estrelada, fizeram pedidos, trocaram juras. Ela achou que poderia esquecer aquilo. Nunca soube o que aconteceu naquela tarde. Queria acreditar que fora somente um mal entendido. Mas nunca conseguiu esquecer. A ferida nunca cicatrizou por completo. E de vez em quando, o passado bate à porta e o coração volta a sangrar, trazendo à mente monstros aterrorizantes. Mas ela sabe que é mais forte, e pode lutar contra isso. Veste sua armadura, pega seu escudo e vai pra frente de batalha, derrubando um a um. Primeiro derruba o ciúmes, depois a solidão. Com um golpe certeiro, apunhala a mágoa, pra logo em seguida decaptar a dor. De longe, acerta o medo, que cai aos seus pés. Por fim, crava a sua espada bem no meio da insegurança. E ergue os braços, vitoriosa. Porque ela só quer ser feliz, de novo.

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