11.14.2002

...No fundo, eu ainda acredito que as pessoas são realmente boas...
Anne Frank

Eu recebi muitos e-mails em resposta do caso da Daniela(alguns posts abaixo).
Alguns me encheram de alegria, por saber que NUNCA estamos sozinhos. Enquanto outros me deixaram profundamente triste e até mesmo irritada. Algo como um risinho sarcástico de bem-feito, escondido atrás do sender. Mas o que mais me incomodou, realmente, foram as pessoas que não leram toda a mensagem, mas mesmo assim quiseram mandar sua opinião. E não foram nada felizes.

É sabido que cada país tem a sua legislação e os seus critérios de avaliação dos estrangeiros que adentram seu território, e a concessão (ou não) de visto de entrada e permanência é uma grande loteria.
Para passar pela imigração, os funcionários aduaneiros fazem uma sabatina sem fim, perguntando desde o que você está fazendo lá até a cor de sua roupa íntima. Se julgarem as informações insuficientes, be prepared. Lá vem mais e mais perguntas. Isso também não é o "xis" do problema. Não deixa de ser um risco, que ela se propôs a correr.

Em um primeiro momento, eu me senti profundamente amargurada, por saber o quanto essa menina batalhou para conseguir essa viagem. Todo o tempo e dinheiro dispendidos. Todos os planos e expectativas. E lhe arrancaram o direito de sonhar com um não alto e estridente. Sem volta. Eu tenho a capacidade de me colocar no lugar dos outros. E pude imaginar o desgosto que é ver um castelo de sonhos desmoronando na sua frente. E sofri com isso.

Mas a intenção da divulgação do e-mail não foi discutir isso, e sim a maneira como ela foi tratada. E aqui sim, entra o fato dela ser negra. E isso é inadmissível. Não só pra ela, mas pra tantos outros seres humanos que ela encontrou jogados, em condições subumanas, no Centro de Deportados. Expulsa, escurraçada, maltratada, humilhada.
E isso, NINGUÉM tem o direito de fazer.

Respeito pelo diferente. Eu sempre bato nessa mesma tecla. E vou continuar insistindo. Não, eu não sou a reformadora do mundo. Mas sei que muito pode ser feito. O pior de tudo foi ler mensagens como "ela é só mais uma", "acontece todos os dias e a gente nem fica sabendo", e por aí vai... É por isso que está assim. É fácil ficar com a bunda acomodada na cadeira, fazer vista grossa e calar-se. Centrar seu foco de visão no próprio umbigo e fingir que não foi com você. Se essa é a sua opção de vida, parabéns. Realmente, do seu ponto de vista, vai continuar sendo sempre assim. Uma grande merda.

Na história do incêndio da floresta, eu prefiro ser o passarinho.
E o que me impulsiona a continuar carregando água no bico, é olhar para o lado e ver que há muitos outros passarinhos fazendo o mesmo.
A vocês, que entenderam e foram solidários com a dor de uma brasileira, meu muito obrigada.

O mundo é mais colorido, perfumado e musical por existirem seres humanos completos, como vocês.

É isso.




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