8.20.2002

Você (seja quem for)
25.fevereiro.2001

"Não sinta medo se, vez ou outra, alguém vestir o olhar da magia e dançar pela casa, arrastando um sorriso. Não sinta medo da ingenuidade de quem desliza a voz no poema preferido e depois assume a culpa por ter ousado na dose de intimidade entre a realidade e a imaginação. Não sinta medo se passos quebrarem o silêncio da madrugada, apenas para levar até você o beijo de boa noite. Não sinta medo da leveza que há, vez ou outra, na existência humana, tampouco evite a vitalidade do sentimento que o acompanhar.

Sentir medo faz parte do dia a dia de todos nós, mas nos poupemos por algum tempo dos desígnios de um destino programado. Lancemo-nos à não-fatalidade dos nossos sonhos de infância, dos anseios da juventude e expectativas para um futuro décadas à frente de hoje. Sejamos assim, férteis da simplicidade da vida e corajosos — vivamos em paz por alguns instantes.

Nem ouse esquecer (em alguma gaveta que raramente é aberta) aquilo que possa ser melhor se aplicado, saindo das sombras. Esconder é um dos impulsos primários do homem, mas sempre mereceu ser o último da fila.

O motivo de tantos conselhos?

Quem sabe possamos alcançar a superfície e respirar uma realidade menos carregada da vulgaridade que invadiu olhos e ouvidos (corpos e almas), numa tentativa de ativar nossos sentidos para o que não nos cabe, mas recebemos por medo. Receio. Covardia. Auto-desrespeito. Porque é justo nos rendermos ao fascínio por aquilo que engrandece a alma, enche os olhos de beleza discreta, seduz pela capacidade de nos fazer pensar o sentir e repensar o que é feito, o que é dito... sem perder a honestidade que cabe ao impulso.

Porque é muito fácil dizer "não tem jeito" quando não sabemos o que fazer e, nem que seja bem lá no fundo, jeito sempre tem. E a vida não é feito uma estação de trem, onde sentar-se num banco e esperar pelo próximo sempre é possível. Na vida, às vezes o que passa tem apenas aquele instante de existência. Acaba. Falece quando não aceito. Perde-se nos poros da insegurança e nunca aquieta; vai sempre machucar.

Perceba então os arredores de você. Perceba o que pulsa independente da sua respiração e, ainda assim, é fragmento da sua vida. Apronte-se para ser feliz quando for o momento e para não ter medo sempre que o problema não puder ser explicado ou imediatamente resolvido.

Saia do canto da sala, da beira da saia, das entrelinhas do tempo.

Não é mensagem de auto-ajuda. É apenas meu pedido para que você (seja lá quem for) seja sempre você, sem a intervenção (maléfica, depressiva, histérica e etc e tal) de outro qualquer. Quem sabe assim possamos manter viva a capacidade humana de tirar das diferenças os mais importantes ingredientes para uma convivência mais pacífica. Sem medos que não possam ser esquecidos num abraço. Sem nações que atravessem o ódio tentando manter fronteiras. Sem indiferença uns pelos outros... e sem a estranheza causada pela solidão. Acompanhemo-nos, então.
"

Carla Dias

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